1. |
Trilhas do Sol
05:05
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TRILHAS DO SOL
(Guilherme Cobelo)
Vou me perdendo nas trilhas do sol...
Essa noite eu tive um sonho, era bem assim:
um deserto medonho a perder de vista,
um vulto de mulher erguendo a cabeça;
vinha caminhando ao lado de um louco anão
em pele de leopardo, entoando cânticos de alucinação.
Vou me perdendo nas trilhas do sol...
Vou ser vento
a circular no tempo
sem ter medo
de acordar mais cedo.
Você vem
andando com um passo estranho...
você estava voando
querendo me carregar.
Olho e vejo que estou só:
nenhum espelho seria melhor.
Quem sorte não tem,
não joga baralho: o azar sabe de cor.
Vou me perdendo nas trilhas do sol...
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2. |
Olhos Negros
03:33
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OLHOS NEGROS
(Guilherme Cobelo)
Deu nó quando eu tentei falar de nós:
no peito deu um jeito que a voz sumiu.
Silêncio que pensei tão cheio de pensar.
Nem nada de conversa confundida,
nem um piu, nem mais um a.
O sol à beira da manhã latente
– quando eu vejo me entorpece!
Deitada no capim, pirimpirimplimplim,
me alimentando de ilusões.
Nada mais queria, além de você transparente.
Quando a gente se abrir
como se fosse uma estrela:
qual de nós não queimaria o outro
feito um serafim?
Sobre eu me sentir tão só,
solta, vazia no espaço:
na verdade é tão profundo
que o mistério não tem fim.
Embora eu queira saber
descubro que o desejo que há em mim
é me perder nos sonhos desses olhos negros como a noite.
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3. |
Cateretê
04:08
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CATERETÊ
(Guilherme Cobelo)
Tá cabando o dia, tá chegando a noite,
estalando o açoite cá no meu ser.
Vou chorar o mundo sem fingir não ver,
dando minhas voltas no cateretê.
Tá cabando o dia, tá chegando a noite:
menina quem foi que te fez sofrer?
Fazendo as contas já sou menos três,
desesperado se é fim do mês.
Enquanto a vida pra lá da janela
me lembra aquela que eu tento esquecer,
pela noite me vou e você,
torto nas voltas do cateretê.
Tá cabando o dia, tá chegando a noite:
menina quem foi que te fez sofrer?
Quem te deu o bote, quem te fez correr,
endoidando o trote no cateretê?
Tá cabando o dia, tá chegando a noite,
estalando o açoite cá no meu ser.
Fazendo as contas já deu menos seis
pés de caipora pisando outra vez.
E eu na viola vivo entristecendo,
doido querendo que durma você.
Pela noite tentando esquecer,
torto nas voltas do cateretê.
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4. |
Café Amargo
04:21
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CAFÉ AMARGO
(Guilherme Cobelo)
Passe um café amargo,
acenda o meu cigarro
e cante para mim uma canção atroz
do tempo de seus bisavós
com voz de quem molhou os olhos
numa tempestade.
Eu tento tanto meu amor,
mas nunca posso:
lá fora está chovendo há horas
e eu aqui secando.
Cante para mim um tango,
acenda outro cigarro
e faça com que a noite não desabe em nós,
de um jeito que eu bem conheço quando ela é feroz,
com garras finas afiadas e cruéis mordidas.
Eu fico tonta
de tanto pensar na vida:
às vezes quero a despedida
desse mundo farto!
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5. |
Memórias Póstumas
02:41
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MEMÓRIAS PÓSTUMAS
(Guilherme Cobelo)
Sinto meu corpo gelado no lado esquerdo de um rio:
a roupa que veste o meu corpo é como um saco vazio.
Escuto ao longe um coro que me faz lembrar o choro do cristão.
Mesmo sentindo tão mal, lúcido como um cristal
vou num instante pra vila que havia perto de lá.
Por onde andei ninguém me viu, até parece que não existia.
Entrei em lares e lugares onde todo tipo de coisa acontecia:
desde quedas de janelas, salto mortal de quimera
vendida à preço de feira para se acostumar
com a vida mal vivida, a cobra do mal imposto;
vi tanta gente pequena se agigantando na cena
achando que vale a pena uma tragédia sincera;
no fim das contas é só mais um drama familiar.
Sinto meu corpo gelado quando atravesso o rio
que circunda o castelo soberbo, arrogante, frio.
Ouço lá dentro estão ditando as regras do jogo:
“vence quem mente melhor, ganha quem rouba sem dó.”
Parece truco a politicaquética dos senhores.
Na corte todos são atores.
Enquanto isso na cozinha envenenaram a galinha:
canjinha mais assassina para acabar com a sinhá
que pegou nego fugindo e mutilou só por gosto
de bancar a suserana, dona do trigo, tirana
que com o reizinho na cama arma enormes intrigas.
Uma vida inteira entregue ao prazer da violência
e a arte de julgar os outros com sua grande eloquência.
Sinto meu corpo gelado nesse mundo dissipado
Sinto meu corpo gelado nesse mundo dissipado
Sinto meu corpo gelado nesse mundo dissipado
Sinto meu corpo gelado nesse mundo dissipado.
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6. |
Ícaro
03:18
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ÍCARO
(Guilherme Cobelo)
Quando isso passar, depois de tudo eu quero estar
aberto a tudo sem pensar, estarei solto,
subirei ao céu e voarei além do sol,
mesmo que doa eu voo só, solto.
Ah, olha a vida, olha o vento, olha o que tem que ser e será.
É o tempo em que tudo parece não ser mais da terra.
Aceito o risco de viver, meu bem,
mesmo que um dia eu morra jovem.
Quando isso passar, depois de tudo eu vou estar
aberto a tudo sem pensar, estarei solto,
subirei ao céu e voarei além do sol,
mesmo que doa eu voo só, solto.
Ah, olha a vida, olha o vento, olha o que tem que ser e será.
É o tempo da vinda de Vênus, é o fim da guerra.
Aceito o risco de viver também:
é o amor que nos dissolve.
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7. |
Missa Elétrica
04:10
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MISSA ELÉTRICA
(Guilherme Cobelo)
Vou me perdendo nas trilhas do sol...
e a noite é uma estranha selva por onde meus passos vão.
Longe demais de tudo, longe demais de todos,
um lobo com olhos de opala uiva diante do inesperado outono,
o anjo elétrico da insônia se eleva e convulsiona
os vagalumes que sabem os caminhos secretos da luz,
enquanto o outro busca abrigo nas tocas ocultas feito um animal...
Vou me perdendo nas trilhas do sol,
perdido estou no brilho da lua
e a noite é uma estranha selva por onde meus passos vão...
Ocos poços, valas secas:
boca alguma bebe no raso vazio de água
entre lembranças de chuva às quais ficou presa.
Sejamos propícios!
E que o templo seja intenso e absurdamente sem métrica!
Que berrem os tambores! e os amplificadores!
Que os corpos transbordem!
E matem a sede das almas na missa elétrica!
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8. |
Canto Torto
01:34
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CANTO TORTO
(Guilherme Cobelo)
volto
pro meu canto torto
atônito
às vésperas de partir
(véspera)
molho
à luz
do espelho
volto
pro meu canto torto
enquanto voz
solto
vasculho o entulho
a sós
separo a sombra
da
forma que eu
vim
ao mundo
de antes
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9. |
Aurora Virada
05:32
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AURORA VIRADA
(Guilherme Cobelo/Gaivota Naves)
vem de longe
vem de lá
de lá de além dali
lá onde o céu e o mar
se encontram sempre unidos
lá por onde o sol
com nuvens a brilhar
vem num carro com cavalos
alados como um rei
perseguindo a aurora
que abre os caminhos
vem solene vem
tão vivo a vomitar
raios de luz sobre os corpos
nus a espreguiçar
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